Me apaixonei pela minha professora e agora? #11
Isso aconteceu tantas vezes que merece um capítulo único.
Eu sei que essa crônica vai completamente em contrapartida com um dos textos já postados aqui quando eu falo sobre o poder de um professor, mas é óbvio que eu sou uma hipócrita ambulante, então o primeiro ensinamento que temos aqui é, escute - leia nesse caso – o que tenho a dizer, mas não utilize como regra, muito menos como régua, porque eu mesma não uso algumas vezes.
Mas vamos lá, eu tenho alguns compilados de quando isso aconteceu na minha vida, mas vou contar só dois casos em específicos, porque foram em momentos muito opostos da minha vida, mas que me ensinaram muito sobre quem eu queria ser e quem eu me tornaria, hoje revisitando esses dois casos, sinto que deveria abraçar as duas minis bias e dizer que está tudo bem, não saber o que fazer, quando admirar torna-se algo avassalador de mais para conter-se.
Ser a melhor só para chamar a sua atenção
Todo mundo sabe – ou eu imagino que saiba – que sempre fui uma grande maria acadêmica, cdf para os mais antigos, e que estudar e tirar boas notas nunca foi algo penoso pra mim, que sempre foi uma obrigação que me impus a fazer e que nunca fui encorajada a desacelerar esse meu lado.
Acontece que lá para sétima seria – a antiga e temida sétima série – muitas coisas mudaram na minha concepção em relação a escola, foi um ano de revolta interna e externa, de mudanças de comportamento, de visual, de compreensão de mundo e acima disso tudo foi quando pela primeira vez na vida acendeu uma lâmpada na minha mente de que talvez eu não fosse tão hetero assim, mas chegaremos lá.
Eu sempre fui uma aluna muito aplicada nas provas e trabalhos e sempre me esforçava de verdade para fazer todos os exercícios, mesmo que isso me tirasse horas de sono ou de diversão seja lendo ou brincando com o pessoal na rua. Porém na sétima série uma chave real modificou, quando entrei na sala no primeiro dia e vi que vários alunos que mal iam a escola e que sempre tiravam nova baixa tinham passado do mesmo jeito sem nem um terço do meu esforço algo quebrou dentro de mim.
Vou ser bem verdadeira, literalmente eu desacreditei da educação como um todo, tudo não fazia muito sentido, porque vamos convir que se eu faltasse e não me esforçasse como os outros ainda sim eu passaria de ano, qual sentido teria em fazer tudo ao máximo? Foi aí que eu me tornei a maior frequentadora da turma do fundão.
Basicamente éramos 3 pessoas, mas valemos por umas 5 – eu deveria pedir desculpas aos meus professores por essa época horrível – mas basicamente sentava no fundo da sala eu, L.A e L.U, e mesmo que sem querer tocamos o terror, não porque atrapalhamos na maldade, mas porque como não estávamos muito afim de estudar, ficávamos ouvindo musica no fone, trocamos bilhetinhos ou fofocamos sobre alguma coisa que sempre dava em risadinhas.
Foi quando também eu fui apresentada ao Rock Brasileiro, porque eu acabava ouvindo de tudo um pouco, por influência da minha mãe, mas também porque ouvíamos muito a rádio mix, então entrei na era trevosa onde só rock era música de qualidade e todas as outras eram meras formalidades – uma chata de galocha eu sei – e nenhuma outra opinião importava.
Mesmo que usássemos uniforme religiosamente todos os dias, não tinha nada no regulamento da escola que dissesse que não poderíamos usar acessórios e foi assim que nasceu uma biazinha com choker, brincos falsos na orelha, piercings falsos no nariz e várias outras bugigangas que me deixavam mais única, além do religioso lápis preto na linha d’água.
Essa fase pra ser sincera no seu auge durou menos que um semestre para ser verdadeira, mas foi o suficiente para ser perceptível em todos os professores, principalmente aqueles que já me conheciam desde que entrei na escola. E claro a professora em questão, no caso a J ela simplesmente desaprovava veementemente essa mudança, por mais que pouco falava comigo sobre.
Entre dias de baderna, de cochilos e de um tédio profundo que até hoje desconheço igual eu fazia o mínimo, pra passar, de forma completamente proposital, contava quantas questões na prova precisava acertar para ficar na média, tinha um caderno mediano pra que tivesse nota o suficiente para não fechar no vermelho e segui assim.
Até que um dia essa professora J me parou no corredor de um jeito que devia ser meio amedrontador acredito e me perguntou curta e grossa o porque da minha média ter diminuído tanto de um ano para o outro que ela quase não me reconhecia mais como a mesma aluna exemplar que ela sempre gostou.
E foi isso, simples assim, um dizer que “gostava” da minha versão nerd e aplicada foi a chave que eu precisava para voltar atrás na minha rebeldia da pré-adolescência. Eu nem lembro se consegui da uma resposta real a ela ou só fiquei olhando assim meio que de baixo pra cima e fiquei percebendo cada mini detalhe do rosto dela e tudo fez um novo sentido na vida – tadinha, mas se tem uma coisa que a bixinha fez foi ser iludida por mulher bonita e mais velha, enfim – e o engraçado que sempre tive aula com essa professora e muitas vezes conversamos e nunca teve essa situação em si até aquele momento.
Eu lembro que cheguei em casa ofegante, sem saber o porque por dentro me sentia expendida, e agora estava mais comprometida que nunca correr atrás do tempo perdido e voltar a ser aquela aluna que ela “gostava”. E aquilo mexeu muito comigo, mesmo que eu não soubesse o porquê.
Só que isso virou quase um vício – uma obsessão se formos muito sinceros – então eu virei a Einstein na matéria dela, simplesmente sabia todas as respostas, ativei um lado do meu cérebro que estava morto na preguiça e conseguia absorver tudo com uma facilidade impressionante apenas e somente para impressioná-la.
Foi quando as coisas saíram de controle – apenas dentro de mim e claro – mas qualquer pessoa que juntasse dois mais dois me diria “Bia, tu e lesbica?”, porém ninguém me disse, muito porque talvez nem passasse na cabeça daqueles que me rodeavam essa palavra ou essa possibilidade, não nessa época em específico.
Me lembro claramente de um dia que eu estava bem confusa em tudo que estava se passando na minha cabeça e na época eu tinha uma melhor amiga - conjuguei no tempo verbal certo, tinha, quem sabe mais pra frente falaremos dela - que não fazia parte da patotinha do fundão, porém ainda sim gostava da minha companhia dentro ou fora da escola.
Enfim, um dia sentadas num banquinho que ficava na lateral da escola que dava de frente para o muro mais baixo da escola, era escondido e ventilado se isso é possível em um lugar só, lembro que nesse dia tinha uma bola na garganta e lágrimas presas no canto do olho enquanto eu falava todas as coisas que eu achava linda nessa professora e ela sem entender me disse tudo que ela achava bonita em uma outra professora.
Acho que foi ali que eu entendi que tinha algo diferente em mim, algo que essa minha ex melhor amiga não compartilhava e também não conseguia me entender. Depois desse dia, nunca mais tive coragem de dizer algo sobre essa professora - por mais que no wattpad eu escrevesse horrores sobre - porque não me sentia entendida e estava começando a achar que aquilo não era “normal”.
Nunca foi tão difícil ser goleira em uma interclasse
Diferente da primeira história que eu não sabia o que estava sentindo, aqui eu já estava no ensino médio e eu já tinha beijado a primeira menina na minha vida, feito maratona de filmes sáficos, entrado em blogs, fóruns e outras mil coisas, então não era um sentimento novo exatamente, mas mesmo assim me deixou um bocado desquadrada.
Tinha uma professora que ela é sulista - sim mila, sulista, minha vida é uma piada - que ela era muito séria, sem tempo pra gracinha e papinho furado, as aulas dela eram leves às vezes tinha até ioga, mas tinha zero proximidade com os alunos, poucas palavras eram trocadas porta a fora na sala de aula.
Tinha um ar de mistério, mas também um “q” de arrogância quando ela passava pelo corredor, tudo que sabíamos dela era que tinha pouco tempo se mudado para nosso estado e que tinha uma harley davidson, linda, nova e que ela não conseguia tocar o pé no chão com ela. Era tudo, quase nada comparado ao quanto os outros professores deliberadamente compartilhavam com a gente sobre sua vida privada.
Acho que já ficou bem claro que sou bem maria asilo - mais pra frente falaremos só sobre isso - mas enfim eu não tinha uma simples queda por ela, era quase um precipício de tão grande e a questão toda foi que somente com ela eu senti aquela sensação abobalhada ao qual você não consegue encarar a pessoa e perde todas as palavras ao respondê-lá.
Então diariamente acontecia uma cena levemente constrangedora dela passar por mim no corredor e dizer bom dia e eu simplesmente responder balançando a cabeça, porque eu não conseguia fazer mais nada e é óbvio que diferente do ensino fundamental as pessoas a minha volta no ensino médio já sabia o que aquilo era e não deixavam passar batido o que deixava a situação mais constrangedora ainda.
Até que um dia em uma das aulas que ela passava muito conteúdo no quadro para copiarmos, ela chegou bem perto de mim e me perguntou “foi você que dançou na feira né?” eu toda sem graça e agradecendo a melanina por não ficar com o rosto corado tirei coragem e respondi “fui eu sim” e ela por fim disse “deveria ter dançado sozinha, você é muito boa nisso” e foi a maior interação que eu tinha conseguido ter com ela e minhas amigas que estavam do meu lado me olhando torto doidas para falar alguma coisa.
Depois dessa micro interação eu consegui começar a responder os bons dias que ela me dava no corredor de um jeitinho menos boco que antes, mas as pessoas ainda percebiam que tinha algo da minha parte, mas não chegaram a comentar, ela também dava um pouco de medo devo confessar.
Até que um dia eu estava bem puta da vida de algo, que sendo bem sincera não recordo bem o que aconteceu, e estava escorada na mureta no segundo andar que dava de frente para quadra, estava lá em completo silêncio respirando para não tacar algo na cara de alguém quando ela se materializou do meu lado.
Tivemos uma conversa breve, mas que me relaxou de certa forma, perguntou se eu estava bem e eu acabei dando com a língua nos dentes do que estava acontecendo, ela disse que o ensino médio era estressante, mas não podia deixar ele acabar comigo antes da hora, eu acabei rindo e ela disse que meu sorriso era bonito, fiquei constrangida e ela disse que eu era uma boa aluna e gostava de mim, tinha personalidade, autenticidade e tudo que me propunha a fazer eu fazia bem, via um futuro brilhante.
E foi assim que acabou a conversa, eu completamente sem palavras, porque eu me coloquei a pensar de onde ela tinha visto tantas qualidades em mim, sendo que eu me olhava todos os dias no espelho e não consegui listar mais que duas coisas que eu gostava em mim, foi um dia surpreendente.
Depois desse dia foi menos recorrente termos muito contato exceto os bons dias no corredor, que eu já respondia com um ânimo bem melhor, mesmo nos dias que eu estava rabugenta. Até que chegou a época da interclasse e claro que tudo fica tumultuado e caótico nessa época. Eu que não era nada fã de futebol fui incubida de completar o time, ficando no gol, tinha tudo pra dar errado, mas infelizmente não deu.
Acabou que conseguimos, por milagres e ter uma atacante muito boa, ganhamos dos outros times femininos de futebol, sendo assim nosso grande prêmios era nada mais nada menos que jogar contra as professoras e eu não estava preparada para isso. Acho que ninguém estava pra ser sincera, porque foi algo que decidiram de última hora e a gente acatou porque ia ser divertido - e realmente foi divertido e perdemos de goleada se vocês ficaram curiosos em saber - e todo mundo topou a ideia na época.
Tínhamos uma professora de educação física que a mulher quase arrancava o nosso coro, sério, tinha muita matéria antes da prática, para as pessoas que estavam acostumados com professores rola bola ela era o terror, mas eu realmente adorava as aulas dela e também a impaciência saudável que ela teve durante toda aquela partida.
Mas o que deixou aquela goleira inexperiente, porém vencedora fraca, foi a bendita daquela professora gaúcha. Não esperava que ela fosse vir tão preparada com um uniforme completo do time com meião e tudo. Eu e a S - que era a atual da M.J na época - ficamos olhando pra ela, nos encarando e pensando, estamos lascadas.
O primeiro gol que tomei foi dela - tem dia que eu tenho certeza que o roteirista de comédia romântica passou na minha vida com umas pinceladas de humor ácido - e por mais que eu estivesse me esforçando muito pra focar na bola que estava vindo na minha direção, tudo nela me tirava atenção, enfim foi um inferno.
Depois desse jogo, que foi quase no final do ano por sinal, tivemos uma última interação onde ela deixou claro que sabia o que eu estava sentindo - é meu amigos a minha cara de cadelinha por mulher estava modo on demais - e me convidou para tomar um café - do qual eu nunca tive coragem de ir tomar - deu uma piscadela que ficou marcada no meu subconsciente e foi embora em cima daquela motona dela que me arrependi muito naquela época de não ter ido dar um rolê.